Poltrona do Tempo



















Sento na única poltrona do tempo,
Que por mim espera
E em momento me aguarda,
Que o tempo passe depressa,
No horizonte que me atravessa.
Erguendo o nó da corda envolta,
No universo enforcado…
Da época!
Em que tudo roda em volta
Do sol elevando a vontade
Ao homem…
Enquanto esquece a mórbida
Escassez da roda em volta ao Sol
Que roda e anda sem nada deslocar.
E se move com um olhar…
O Sol, em pensamento!

E tão vaga a razão
Hoje em dia…

E enquanto espero, reparo,
Cansada de tanto esperar…
Reparo que ando no sonho do vagar,
Como antes se vive em terra de estar!
Existe o viver sem reparar
Olhar sem olhar…Para Te Ver…
Não tão intensamente como o meu desejar,
Como quem aguarda a volta do dia
A chegada da noite, em tal nostalgia o desejo…
De brancos afectos, que brancos não fiquem,
Sem cor os meus sonhos
Isentos desejos… aos meus afectos,
Com o tempo…
E o tempo, com ele, atento…
Enquanto aguardo e espero que passe o mesmo!
Nem ando, nem vacilo, nem movo… momento…

Em espera … Na única poltrona no tempo.

E na espera que me desespera,
Sobressaltada…
Espero…
Enquanto o tempo que por mim passa
Veloz e azedo
Rodando como uma mera esfera
Uma bola de neve que rebola
E tudo leva
E não espera…
E fico postada, demente,
Vazia, ansiosa na minha mente!
De correr apressada, vaguear como o vento
Correr como a chuva, velozmente…
Esperando… que o frio passe!
Mas corro e tento apanhar o tempo,
E num ápice… num pensamento…

Rodo no tempo com tal lucidez
Correndo com todos à minha volta
Esperando mesmo… que seja de vez!

Carla Bordalo