Azedume



















Hoje sei que estou
Dentro de uma represa carregada
De tal desolação infindável,
Que me sinto devorada numa inquietude impiedosa
Sem lasca lacada de porta mergulhada,
Em capelas fechadas de velas a findar.

Hoje sei que me sinto
Em profunda nostalgia vazia;
Em três pedaços quebrada;
Apenas três pedacinhos
Que me arrastam longe,
Destes bocados em que me vejo abalar.

Assim estou em tempos assim
E sem poder escrever poesia,
Histórias, contos ou marrafas de emblemas
Pendentes em que me assento.
O banco partiu-se em três lendas
De comédias desajeitadas e impensadas!

Nada cá dentro arremete
Ao que tudo azeda agremente;
Encontro as mesmas teclas de sempre;
Os dedos movem-se sozinhos e escrevem… Por escrever.
As palavras formam-se sem contextos
Repartidas com frases sem nexo… É só ler!

Onde estão escondidos os artefactos,
Que vulgarizam a existência
Absoluta do querer?
E que fazer, se hoje só sei divagar?
Devanear numa beleza apagada
Comprometedora… do nada!

Tenho dias assim…
Eu que não sou eu que aqui estou;
Não sou eu quem matuta
Nesta forma estranha e desconhecida,
Que me prende a este estado emaranhado,
Tresloucado e, sem mente.

Carla Bordalo

http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=24623